quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A Igreja, a notícia e a imprensa


Tenho dificuldade em imaginar um programa de televisão que pudesse ser pior que o “Big Brother Brasil” (ou outros, do gênero). Me parece bastante idiota e até patético ficar observando a vida alheia e a destruição do conceito de privacidade, mesmo que a invasão seja autorizada.

É um programa que, embora do gênero “reality show”, nada tem de real. Os próprios ex-participantes afirmam que não são, na vida pessoal, da forma como aparentaram ser. Isto é, criaram personagens, viveram mentiras. Ora, se já não tem graça gastar tempo observando a vida dos outros, a situação é ainda mais deprimente quando o que se vê é “falsamente real”, se é que isso existe.

Bom, como gosto não se discute (lamenta-se a falta dele), só me resta usar o controle remoto, seja para mudar de canal, seja para desligar o televisor. A última opção é a que mais tenho abraçado. Vou buscar o que ler na grande rede. Me inteirar dos acontecimentos, das notícias...

Aí, uma nova decepção: nos maiores portais de notícia do Brasil as manchetes são, à unanimidade, os acontecimentos no interior da “casa”. É difícil acreditar que algumas pessoas não se contentam em assistir ao BBB, ainda leem “notícias” sobre ele. É mais difícil acreditar que profissionais da imprensa chamem isso de notícia, matéria jornalística ou alguma coisa parecida!

É o retrato da ausência de valores dos nossos dias. Dá a impressão que não há notícias que mereçam publicação. É como se nada de importância acontecesse... As páginas dos jornais (na mídia impressa ou eletrônica) são preenchidas por futilidades e inutilidades, como BBBs, novelas, e até o diário de atividades das celebridades. Por que querem emburrecer as pessoas? Qual o interesse por trás disso? Por que produzir “notícias” factóides? Seria apenas para aumentar a audiência (e consequentemente, a arrecadação) desses “brilhantes” programas televisivos? Quanto desperdício de recursos! Eles têm os meios de levar a notícia, mas não tem verdadeiras notícias para levar (ou não há interesse em publicá-las)...

Essa situação me faz lembrar na narrativa bíblica sobre a morte de Absalão, filho do rei Davi. O registro está no segundo livro de Samuel, capítulo 18. Diz a Palavra que Cusi (em algumas versões, traduzida como o homem de Cuche), foi encarregado de levar ao rei Davi a triste notícia da morte em combate de seu filho Absalão. Aimaás, filho de Zadoque, insistiu como Joabe que ele, e não Cusi, deveria levar a notícia. E partiu correndo. Aimaás era bom de corrida e ultrapassou Cusi no caminho, chegando primeiro no palácio. Porém, quando foi perguntado pelo rei Davi sobre Absalão, não teve coragem de dar a notícia. Limitou-se a dizer “Vi um grande alvoroço, quando Joabe mandou o servo do rei, e a mim teu servo; porém não sei o que era” (versículo 29). Mas aí chegou Cusi, e cumpriu o seu dever de dar a notícia, mesmo que ela fosse desagradável aos ouvintes. Se Cusi fosse vivo, seria um excelente jornalista... mas talvez estivesse desempregado. Não atenderia aos padrões de qualidade da mídia atual.

Quantas vezes nós, igreja de Jesus, temos feito como a imprensa? Deixamos de dar as notícias importantes, preenchemos todo o tempo e espaço com amenidades. Por quê? Porque assim como Aimaás, não gostamos de ser portadores de notícias que podem soar desagradáveis ao ouvinte. Mesmo que a notícia seja verdadeira e, sobretudo, necessária.

Queridos, é preciso coragem para anunciar o Evangelho verdadeiro, aquele que diz que “todos pecaram” e que por causa disso “destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3.23) e que “o salário do pecado é a morte” (Romanos 6.23). O Evangelho que afirma que aqui teremos, sim, aflições (João 16.33), mas que garante que “as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Romanos 8.18)!

Somos portadores de uma importante notícia: o Evangelho, que tem mudado vidas ao longo dos séculos. Precisamos proclamá-la. Se não o fizermos, corremos o risco de em pouco tempo nos reuniremos apenas para conversar sobre amenidades... E, se além do bom senso ainda formos privados do bom gosto, acabaremos perdendo nosso tempo até com coisas ridículas como o “Big Brother”. Que Deus nos livre disso!