sexta-feira, 6 de março de 2009

O Cabralcóptero


O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, comprou um helicóptero que custa a bagatela de R$ 12.000.000,00. Isso mesmo, não tem zeros em excesso... são DOZE MILHÕES DE REAIS.

É um beija-flor mecânico que, além de voar e ficar parado no ar, também terá BANCOS DE COURO E AR CONDICIONADO, porque ninguém é de ferro... além de possibilidade de vôos completamente por instrumentos (visibilidade zero).

Acho que a medida faz parte do plano de contingenciamento de despesas do Estado em função da esperada perda de arrecadação em razão da crise! A necessidade é ainda maior, considerando-se as dimensões continentais do Estado do Rio de Janeiro, que seria impossível percorrê-lo por outro meio de transporte.

Ainda bem que no Estado do Rio não há problemas de segurança, saúde pública e educação. O funcionalismo ganha muito bem e está supermotivado...

Ai, ai, ai.

E vamos nós, em céu de brigadeiro. Mas cuidado com o Cabralcóptero.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Oba, não estou sozinho!


Já externei aqui a minha profunda antipatia ao programeco "Big Brother Brasil". Felizmente não estou sozinho. Tomei conhecimento de um artigo escrito por um dos mais conceituados juristas de nosso país, Dr. Miguel Reale Júnior. E, claro, não poderia deixar de transcrevê-lo na íntegra. Segue:


Artigo do Prof. MIGUEL REALE JÚNIOR sobre o "BBB".


Programas como Big Brother indicam a completa perda do pudor, ausência de noção do que cabe permanecer entre quatro paredes. Desfazer-se a diferença entre o que deve ser exibido e o que deve ser ocultado. Assim, expõe-se ao grande público a realidade íntima das pessoas por meios virtuais, com absoluto desvelamento das zonas de exclusividade. A privacidade passa a ser vivida no espaço público.

O Big Brother Brasil, a Baixaria Brega do Brasil, faz de todos os telespectadores voyeurs de cenas protagonizadas na realidade de uma casa ocupada por pessoas que expõem publicamente suas zonas de vida mais íntima, em busca de dinheiro e sucesso. Tentei acompanhar o programa. Suportei apenas dez minutos: o suficiente para notar que estes violadores da própria privacidade falam em péssimo português obviedades com pretenso ar pascaliano, com jeito ansioso de serem engraçadamente profundos.

Mas o público concede elevadas audiências de 35 pontos e aciona, mediante pagamento da ligação, 18 milhões de telefonemas para participar do chamado "paredão", quando um dos protagonistas há de ser eliminado. Por sites da internet se pode saber do dia-a-dia desse reino do despudor e do mau gosto. As moças ensinam a dança do bumbum para cima. As festas abrem espaço para a sacanagem geral. Uma das moças no baile funk bebe sem parar. Embriagada, levanta a blusa, a mostrar os seios. Depois, no banheiro, se põe a fazer depilação. Uma das participantes acorda com sangue nos lençóis, a revelar ter tido menstruação durante a noite. Outra convivente resiste a uma conquista, mas depois de assediada cede ao cerco com cinematográfico beijo no insistente conquistador que em seguida ridiculamente chora por ter traído a namorada à vista de todo o Brasil. A moça assediada, no entanto, diz que o beijo superou as expectativas. É possível conjunto mais significativo de vulgaridade chocante?

Instala-se o império do mau gosto. O programa gera a perda do respeito de si mesmo por parte dos protagonistas, prometendo-lhes sucesso ao custo da violação consentida da intimidade. Mas o pior: estimula o telespectador a se divertir com a baixeza e a intimidade alheia. O Big Brother explora os maus instintos ao promover o exemplo de bebedeiras, de erotismo tosco e ilimitado, de burrice continuada, num festival de elevada deselegância.

O gosto do mal e mau gosto são igualmente sinais dos tempos, caracterizados pela decomposição dos valores da pessoa humana, portadora de dignidade só realizável de fixados limites intransponíveis de respeito a si própria e ao próximo, de preservação da privacidade e de vivência da solidariedade na comunhão social. O grande desafio de hoje é de ordem ética: construir uma vida em que o outro não valha apenas por satisfazer necessidades sensíveis.
Proletários do espírito, uni-vos, para se libertarem dos grilhões da mundialização, que plastifica as consciências.

Repassem !


Miguel Reale Júnior, advogado, professor titular da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras.
O Estado de São Paulo, 02 de fevereiro de 2009