terça-feira, 13 de abril de 2010

Morro do Bumba: tragédia esperada


Quando ocorre algo inesperado as pessoas tendem a isentar-se de culpa da forma mais fácil, qual seja, transferindo-a para outra pessoa. Muitas das vezes essa outra pessoa é Deus. Principalmente quando o fato “inesperado” é decorrente de catástrofe natural.

A técnica é antiga. Quando Adão pecou, não demorou em culpar Deus: “Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi.” (Gênesis 3.12).

Recentemente fortes chuvas chegaram ao Estado do Rio de Janeiro, castigando de forma mais intensa a Capital e a Região Metropolitana, especialmente a agradável cidade de Niterói. Muitas vidas se perderam. E logo veio a troca de culpas, a imprensa apontando nomes (geralmente de políticos), mas aí o sr. Jorge Roberto Silveira, Prefeito daquele município, esquivou-se, dizendo: “não mandei chover”. Por via transversa, culpou a Deus, o responsável pela chuva. Não quero, aqui, entrar na seara da eventual mudança climática por influência da humanidade (até porque tenho sérias restrições a essa teoria). Mas impressiona ver como a tragédia vai sendo construída aos poucos, vai ganhando forma e nenhuma ação preventiva é tomada.

Vê-se, primeiro, a imprudência dos primeiros moradores, que, como em centenas de outras áreas irregularmente ocupadas, começaram a construir suas casas em áreas impróprias. Depois, a omissão do Poder Público, em proibir as construções e a expansão da ocupação ilegal. Mais que isso, muitas vezes o Poder Público fomenta a ocupação irregular que, na visão dos governantes do momento, pode virar um belo curral eleitoral.

No caso do Morro do Bumba, em Niterói, a displicência da administração pública municipal beira a criminalidade, já que além de permitir a ocupação de um lixão, havia sido alertada dos riscos. A Emusa (Empresa Municipal de Moradia, Urbanização e Saneamento de Niterói elaborou um laudo em que apontava a situação crítica do local, sugerindo a realização de obras emergenciais. Tais obras foram objeto de decisão judicial, em caráter liminar, proferida pela Segunda Vara Cível de Niterói em janeiro de 2009. Caso a decisão tivesse sido cumprida, muitas vidas teriam sido poupadas.

Finalmente, fiquei estarrecido ao tomar conhecimento de que já havia ocorrido desabamentos anteriores à tragédia maior. O Corpo de Bombeiros esteve no local para tentar resgatar o morador de uma casa, que ruíra. Não localizou o corpo, interrompendo os trabalhados por entenderem que a situação no local oferecia risco. Entretanto, não alertaram os demais moradores desse risco. E logo após a saída dos bombeiros, ocorreu o desmoronamento e a tragédia que todos vimos e acompanhamos pela imprensa.

Que sucessão de erros e de omissões! Mas insistem em culpar a chuva... e, quem sabe, a Deus. Misericórdia, Senhor! Misericórdia do povo que sofre, e daqueles que acham que podem fazer tudo sem serem notados por Deus. Sim, misericórdia, Senhor!

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